Sérgio Luís Domingues
Durante todo o primeiro ano do ensino de geografia, na minha longínqua quinta série, uma pergunta pairou no ar: o que será península? As explicações dadas pela professora não eram claras e consegui passar pelas avaliações daquele ano sem que a pergunta estivesse na prova. Resultado: passei de ano sem saber o que era península.
O tempo foi passando e, à medida que progredia nos estudos, já tinha a compreensão do que era a tal península. Mas, somente muitos anos mais tarde, assistindo a uma aula do professor Papau (atualmente apresentador do programa SBT Rural), no antigo programa Vestibulando da TV Cultura de São Paulo, tive a explicação que deveria ter sido dada em sala de aula há anos.
Pela televisão aprendi que península “é um braço de terra que avança para o mar”. Na mesma hora pensei: tão fácil de explicar e a professora enrolou um tempão. Mais tarde percebi que faltou didática a minha professora de Geografia da quinta série.
Aprender a ensinar
Naquele momento, decidi que quando fosse explicar alguma coisa a alguém iria me esforçar para ser didático. Mais tarde, ao tomar conhecimento da obra de Paulo Freire, aprendi que “ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou sua construção”. Esse conceito, amplo e profundo, remete a outro pensamento também de Freire: “não há docência sem discência. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.
Assim, munido dessas máximas do nosso mais ilustre educador, tento a cada nova palestra ser o mais didático possível para que os ensinamentos possam ser aprendidos, assimilados e não somente ouvidos.
Construção do conhecimento
Recentemente, explicando o conceito de inconsciente a uma turma de graduação em Publicidade e Propaganda, apaguei as luzes da sala e acendi uma lanterna. Disse a eles que o facho de luz era o nosso consciente e as pessoas que haviam ficado no escuro representavam o inconsciente; apesar de estarem fora da luz, não significava que não existissem e que não estivessem presentes.
Ao ser didático, estamos deixando de lado a ênfase no ensino para nos dedicarmos à ênfase na aprendizagem. E essa é uma opção apenas dos educadores progressistas, preocupados com a prática de uma educação para a mudança, para a verdadeira construção do conhecimento do aluno.
E quando nos preocupamos com o crescimento do próximo, nos engrandecemos, nos iluminamos e nos tornamos mais humanos e o aluno aprende o conteúdo porque sente prazer em aprender. O ato de educar dessa maneira é um ato de amor e o professor quando educa com amor torna-se um ser maior.
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