quarta-feira, 3 de março de 2010

CELULAR NA ESCOLA?


Atenção: desligar e guardar os celulares. Celular na escola? Pode?


Tem causado grande polêmica a criação de leis municipais e estaduais que propõem proibições para o uso do celular nas escolas. Nas redes de ensino onde isto já é praticado, justifica-se que só mesmo com a proibição legal garante-se a autoridade do professor que, desta forma, amparado pela lei, pode se fazer respeitar durante suas aulas, proibindo o uso do celular. "Celular na escola, não!", ou como dizem os não tão radicais, "celular durante a aula, não!".

Mas por que mesmo não pode? O vilão da vez

Para responder a esta pergunta, sataniza-se o equipamento, o celular, e destaca-se o quanto os alunos, crianças e jovens, envolvem-se por tudo o que esta tecnologia de informação e comunicação possibilita, deixando assim de se interessarem pelas aulas dos seus professores. Então, neste caso, a opção melhor é mesmo proibir, censurar, pois se trata de uma concorrência desleal, argumenta a maioria. E por isso, os professores aplaudem tal legislação.

No entanto, com este tipo de censura, perde a educação e perde a sociedade.Sérgio Amadeu, pesquisador de Comunicação Mediada por Computador e da Teoria da Propriedade dos Bens Imateriais, diz que "não tem sentido você proibir que os estudantes tenham acesso a um meio de comunicação que cada vez mais vai adquirir importância na sociedade. Ao contrário, se a gente tem problemas do uso indevido nas escolas, esse é um bom lugar para ensinar como as pessoas devem se portar com o celular". Amadeu ainda ressalta: "Se existem algumas coisas ruins, como por exemplo, a pessoa usar o celular para fazer um joguinho em sala de aula ou para fazer ligações, isso requer uma postura da escola em relação aos alunos. Se é impossível ensinar um comportamento de uso de celular a um estudante, o que será possível?". A professora Andrea Guimarães Phebo complementa: "A lei só vê um lado da questão: o lado da falta de educação e desrespeito da utilização. Se os próprios educadores não tiverem um olhar diferenciado sobre como podem transformar a ferramenta celular de "vilão" em "mocinho", a lei continuará impedindo que este instrumento tecnológico de múltiplas funções possa se transformar em ferramenta didática". (In. Educarede: As 1001 utilidades de um celular)

Essas legislações passam a seguinte mensagem: quando não se sabe o que fazer ou como lidar com algo é melhor proibi-lo pura e simplesmente! E erram feio mais uma vez: na escola já se proibiu o uso de jogos, de filmes, de gibis, dos periódicos, da televisão e mesmo do computador no processo de ensino-aprendizagem. Agora, o vilão da vez é o celular!


Definitivamente, proibir por proibir não é o melhor caminho, até porque os jovens são criativos o suficiente para burlar as proibições. Um exemplo dessa criatividade é o que estudantes ingleses inventaram: "Eles criaram um toque de celular, semelhante a um apito, que a maioria dos adultos não consegue ouvir. Com isso, podem receber avisos de mensagens armazenadas no celular, ou até mesmo chamadas, sem que a professora se dê conta da infração cometida bem à sua frente. O segredo está na freqüência sonora em que o toque é executado: 17 quilohertz, o que resulta num som extremamente agudo. A ciência ensina que a perda gradativa da audição decorrente da idade, ou presbiacusia, começa com a menor percepção dos tons mais altos do espectro sonoro. O toque criado pelos garotos ingleses encontra-se justamente numa faixa do espectro que não é percebida pela maioria das pessoas com mais de 29 anos". (In: A última travessura: Adolescentes usam toque de celular numa frequência que muitos adultos não escutam. Leoleli Camargo- Veja - Edição 1961 . 21 de junho de 2006.


http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=revista_educarede.especiais&id_especial=493

celular integrado às atividades do Minha Terra



Claudemir Edson Viana*
Sônia Bertocchi**


As razões indicadas em "Pelo Celular...lá na escola!" e "Por que celular na educação?" serviram de fundamento para a decisão de incluir o aparelho nas atividades propostas pela comunidade virtual de aprendizagemMinha Terra 2009 - aprender a inovar, do Portal Educarede. Como um dos desafios apresentados por esta comunidade aos seus participantes, foi lançado, em agosto de 2009, o "Pelo Celular - planejando a intervenção". O pedido era que as equipes de reportagens (alunos do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio) produzissem um registro de até um minuto em audiovisual, utilizando a câmera do celular. Nesse audiovisual a equipe anunciaria o projeto de intervenção na realidade social que havia sido objeto de sua primeira reportagem, então já publicada num espaço específico da comunidade virtual (a galeria temática).
Para tanto, a equipe necessitaria passar por alguns procedimentos preparatórios fundamentais, como a preparação de um roteiro básico, a organização do cenário, da iluminação e do ensaio dos envolvidos na atuação. Essa necessidade demonstra o quanto a atividade não se resume apenas ao uso do equipamento e de seus recursos: o planejamento e a criação prévia da equipe são etapas fundamentais para o melhor proveito das ideias e do equipamento.
Neste desafio, compunham a trajetória não só o uso do aparelho de celular, mas também procedimentos posteriores, como o ato de baixar a gravação num determinado computador, fazer ou não a edição do material gravado, proceder com a publicação do produto final no YouTube e, finalmente, "colar a publicação" no Canal Minha Terra no YouTube (cujo acesso direto se dá pelo link disponibilizado na home desta comunidade) no grupo temático específico identificado com o título deste desafio.

"Lo que realmente es importante de la comunicación móvil no es tanto la movilidad, sino la conectividad permanente, estés donde estés, se haga donde se haga.
Esto nos permite estar constantemente relacionados
con los amigos, la familia y el trabajo."

Manuel Castells em entrevista à BBC Mundo.

Além disso, o grupo ainda teria que comunicar a todos os demais participantes sobre a publicação e convidá-los para assistir à sua produção, fazendo uso dos demais canais e ferramentas de interação apresentados no Minha Terra, como o blog da comunidade e o uso do Twitter pessoal, ou mesmo institucional, criado pelos alunos (Twitter do grupo de repórteres ou Twitter da escola, por exemplo).
Assim, dava-se a efetiva utilização das características próprias do uso do celular, como a mobilidade, e também a convergência e integração de diferentes mídias, linguagens e suportes técnicos, ao se propor em seguida a utilização do YouTube, do blog e do Twitter. E, o mais importante, tudo isso acontecia em razão e a favor do desenvolvimento do projeto de intervenção social da equipe que, por sua vez, trazia uma proposta pedagógica de trabalho.
Foram vários os exemplos de trabalhos cuja criatividade e capacidade de realização demonstraram domínio sobre o uso destes recursos diferenciados do celular de forma articulada aos demais recursos da Web 2.0 propostos pelo Minha Terra. Em alguns casos a riqueza no trabalho de equipes de reportagem com os elementos de construção da mensagem como roteiro, cenário, iluminação, som, edição, causou surpresa, demonstrando o quanto os jovens têm ou desenvolvem facilmente múltiplas habilidades no uso de diferentes plataformas e tecnologias.
Em novembro foi lançado o segundo desafio, desta vez intitulado "Pelo Celular - minuto intervenção", no qual as equipes participantes teriam que registrar algum momento da execução do seu projeto de intervenção para, posteriormente, proceder com sua publicação e sua publicização nos mesmos moldes do que fora proposto o primeiro desafio.
Com esta inserção do celular nas atividades do Minha Terra, a principal intenção foi provocar entre os jovens e, sobretudo, entre os educadores a percepção de como o celular e seus recursos podem ser inseridos de forma articulada às demais ações de um projeto pedagógico, no qual quem ganha é o próprio projeto e as pessoas envolvidas. Assim, espera-se que outras situações de ensino, fora das propostas do Minha Terra, aconteçam como um desdobramento desta comunidade, o que, aliás, constata-se já estar acontecendo, a exemplo do uso do Twitter.


* Bacharel e licenciado em História (USP-1992), especialista em Educomunicação(USP-2003), Mestre e Doutor em Ciências da Comunicação pela ECA/USP (2000-2005) e gestor da comunidade virtual Minha Terra desde 2007 do Portal EducaRede.

** Bacharel e Licenciada em Letras (FFCLSanto André — 1973), Máster em Gestão e Produção de e-Learning pela Universidade Carlos III de Madri, gestora de Comunidades Virtuais de Aprendizagem do Portal EducaRede Brasil.

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